Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933) é reconhecidamente uma das artistas mais importantes do Brasil. Foi pioneira da vídeo-arte no país e uma das grandes expoentes da primeira geração de artistas conceituais latino-americanos. Sua trajetória, marcada por rupturas e pela multiplicidade de meios e assuntos, começa na década de 50 e primeiros anos da década 60, ligada sobretudo ao abstracionismo informal, conjugando a abertura para o imprevisto, espontâneo, com um profundo rigor com a forma.
Mais tarde, dedica-se à gravura em metal e ao uso do guache, momento em que desenvolve sua chamada Fase Visceral, sob grande influência do movimento conhecido como Nova Figuração. Compostas a partir de chapas de metal recortadas, as imagens desse período cruzam discussões próprias às técnicas de gravura com noções acerca da realidade orgânica do corpo humano como referencial para representações geopolíticas, de maneira que a fragmentação de nossas partes pudesse ensejar possíveis mapas. É quando o estudo da cartografia entra em definitivo para o seu campo de interesse, problematizando ideias de território, fronteira e hegemonia cultural.
Já nos anos 70, sua produção assume um caráter experimental — que a própria a artista reconhece como o único modo possível de arte —, rompendo com os nortes do período moderno e ingressando radicalmente nas práticas contemporâneas. Passa então a se valer de muitos outros meios, como as fotomontagens, fotogravuras, fotocópias e o vídeo; e em igual medida, suas ambições temáticas se expandem, resultando em obras comprometidas com um pensamento crítico e que assumem fortes conotações políticas. Também estreita o diálogo com as áreas da antropologia e do estudo da imagem, se aprofundando em uma geopoética e antecipando diversas pautas fundamentais ao debate público do país e do globo atualmente.
Do início da década de 90 em diante, Geiger amplia ainda mais seu repertório material. Dessa época destaca-se a série Fronteiriços, em que formas de mapas e outros elementos como linhas e diagramas aparecem dentro de gavetas de ferro de antigos arquivos que foram preenchidas com cera. Metáforas do conhecimento e da memória, as caixas descoladas das mapotecas remetem à fluidez com que circuitos operam a difusão e cristalização de certos objetos e relações, fixando-os na superfície do imaginário social. Até os dias hoje a artista segue trabalhando ativamente e sempre com novo frescor, produzindo colagens em diferentes mídias que revisitam e exploram seus principais temas.