Exposições

Cosmologias Ballroom

Cosmologias Ballroom é sobre a multiplicidade de universos criados pela cultura ballroom. Dos extravagantes bailes às famílias platônicas, passando por um rico ecossistema que mistura arte e sociabilidade numa trama complexa, a ballroom possui códigos próprios. Cosmologias Ballroom é um exercício de ficção visionária em que criamos possibilidades infinitas sobre quem somos e quem queremos ser. 

A comunidade Ballroom brasileira vem gerando visões de mundo e confluências de saberes únicos e encantadores através dos bailes, das praças, das encruzilhadas, dos terreiros, casas e outros espaços no tempo. Capazes de reimaginar a existência de corpos dissidentes, periféricos e racializados, essa cultura transcestral constrói passarelas que amplificam suas próprias narrativas. As estéticas artísticas extrapolam os espaços de uma ball e criam estratégias de cura no caminho para florescer em solos contaminados pelo colonialismo. Se a branquitude e a cisgeneridade são vírus sociais, os corpos da Ballroom são antídotos, arquivos vivos da história capazes de transformar passado, presente e futuro.

Como nos pensamentos sobre performances do tempo espiralar de Leda Maria Martins, na Ballroom o voguing é mais do que uma dança, é a manifestação de uma cultura viva e em constante transformação, ancorada em ancestralidade, memória, ritual, oralidade e performance. A ancestralidade se presentifica no LSS/LIPSS, momento inicial de toda ball, em que são evocadas as pessoas proeminentes e que contribuíram ou ainda contribuem ativamente para a comunidade. Celebra-se quem chegou antes e pavimentou o terreno para quem chegou depois.

A memória é assim articulada de inúmeras formas, seja no sistema de reconhecimento para membros de destaque – que se tornam stars, statements, legends, icons e pioneers, seja através de categorias que reivindicam diferentes tempos e espaços num ritmo de baile que acontece sempre numa mesma estrutura, com início, meio e fim, sem nunca ser a mesma coisa. A voz e a performance são o que mantém o baile acontecendo. As vozes de chanters, os movimentos de voguers, os ritmos de DJs, a moda, a beleza, os desfiles e outras performances da comunidade são uma cosmologia própria, um universo singular e único que gera fissuras no ci$tema. Criando novos mundos infinitos que se expandem coletivamente por territórios plurais, com suas próprias tecnologias, linguagens, dinâmicas e estruturas de parentesco, a Ballroom gera e transmite para as próximas gerações os saberes diaspóricos que compõem seus rituais. 

Cosmologias Ballroom faz um recorte dentro dessa cultura, entendendo a impossibilidade de dar conta de toda a sua magnitude, mas almejando compor um universo possível da Ballroom com uma exposição e programação pública composta exclusivamente por artistas da cena brasileira, de diferentes houses mainstream e kiki, dando continuidade ao legado da cultura Ballroom.

 

Diego Pereira & Flip Couto

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