Manjar

Grave do Mundo

GRAVE DO MUNDO

Tambores iniciam convocando junto com as águas
De fio nascente que corre rente à terra a rio largo marulhando tempo,
Crescendo correnteza, queda, tromba d’água
Bolsa de fina pele que estoura no toque de dedos parteiros e inunda o mundo de líquidos nutritivos
Nascimento

Suave, cantiga de botar no colo criança recém-nascida com cólica pra dormir
Barriga com barriga, umbigo com umbigo
Acalanto de ngoni
Vem chamando
Águas, pássaros
Correntezas de mel
Reflexo de espelho que reluz beleza e cega inimigo
Corpo farto de fertilidade
Leite leito e aleitamento
Vai acalentando, nutrindo
Alimentando sonho pra crescer:
“enquanto eu durmo eu cresço” (Txai)

Os seres conversam, cantam, gritam
Vem a seca trazida pelas disputas de poder
A terra definha irrespirável
Seres vegetais e animais morrendo
As fontes esgotando-se
Oxum Pavão voa rumo a Olodumare
Pedir a chuva de volta, para que a vida se reestabeleça
As penas vão se tornando pretas, queimando pelo calor do Sol
A cabeça pelando
Olodumare se compadece tamanho ato de doação da ave, Oxum mãe da humanidade transformada em Urubu,
E lhe nomeia mensageira sua, dando-lhe a chuva para que regue o ayê
Oxum Abutre reestabelece a fertilidade, assegura a continuidade da vida
Renova rios

Tambores retornam em festa
O mundo frutificando
O solo encharcando
Corpaterra em gozo pelas águas
Dilúvio para lavar o sal das lágrimas sobre o solo seco
Olho d’água para arrefecer as pedras ardidas, suspiro que sobre em forma de vapor
Água que na luz faz arco-íris e saúda Cobra Grande, Oxumarê que surge em dança com Oxum
Festejar a fartura compartilhada e o retorno do alimento às bocas

Fotos de Renato Mangolin

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