Korakrit Arunanondchai: Mas palavras fazem mundos
Korakrit Arunanondchai (1986, Bangkok, Tailândia) entende a arte como um importante instrumento para contar histórias e proporcionar experiências de disrupção da linearidade temporal. Em sua obra, o artista vislumbra a possibilidade de criar reversos da história, propondo descontinuidades à causalidade para dar lugar à emergência de novas formas de convívio diante dos desafios do tempo presente. Trabalhando principalmente a partir do contexto cultural tailandês e de sua experiência como artista imigrante nos Estados Unidos, o artista investiga a relação entre as formas de organização social e os múltiplos rituais e mitos que estruturam a vida coletiva. Há mais de uma década, ele vem desenvolvendo performances, esculturas, pinturas e sobretudo videoinstalações que convidam o público a imergir em mitologias complexas, abordando os fenômenos políticos e sociais simultaneamente em suas dimensões espiritual e histórica.
Korakrit Arunanondchai: Mas palavras fazem mundos é a primeira exposição individual do artista no país e apresenta uma instalação inédita composta por dois vídeos: Com história numa sala cheia de pessoas com nomes engraçados 4 (2017) e Nenhuma história em uma sala cheia de pessoas com nomes engraçados 5 (2018). Os dois trabalhos fazem parte de uma série que entrelaça memórias pessoais e narrativas históricas, refletindo sobre a relação entre corpos e dispositivos tecnológicos na encruzilhada entre lembrança e esquecimento, entre difusão de imagens e apagamento. A partir de uma concepção temporal que funde e confunde documentação e especulação, o artista forja seu espaço cinematográfico como uma fonte de ambiguidades especialmente inspiradora para pensar as noções de pertencimento e identidade. Neste universo em que a realidade é impregnada de encantamento, encontramos personagens que transitam pelo mundo lidando com a perda, a dor, o prazer e a renovação – questões comumente compreendidas como “humanas”, mas que aqui identificamos em diversas outras forças e inteligências desejantes. Na caverna escura e lúdica do cinema de Arunanondchai, a metáfora dos fantasmas instituem zonas “sem história” como espaços de liberdade e potência, se apresentando como instrumento de reflexão, de luta contra o poder hegemônico e de cura para traumas coletivos.
A presente exposição integra a extensa programação dedicada pelo Solar dos Abacaxis aos estudos das Ecologias Queer e contribui para uma reflexão sobre a importância de se considerar os elos indissociáveis entre espiritualidade e política ao se tratar dos estudos sobre vida, natureza e sociedade. Arunanondchai propõe que o público faça de seus trabalhos espaços de encontro, partilha e união. A partir da densa experiência sensorial de suas propostas, novas linguagens podem surgir, capazes de criar mundos que nossas atuais palavras ainda não dão conta.
Solar dos Abacaxis