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NTÚ

O Solar dos Abacaxis apresenta “Ntú”, a quarta ação do FunColab (Fundo Colaborativo Emergencial para Artistas e Criadores). Convidamos inicialmente três artistas para apresentarem a relação entre suas práticas e três temas cuja reflexão é crucial para o nosso tempo: rua, terra e cura. Ações inéditas, processos atuais, trabalhos anteriores, indicações de colaboradores e referências de pesquisa serão compartilhadas. Em seguida, cada um dos três participantes poderá convidar um próximo artista para também receber recursos do fundo e seguir com elaborações sobre o mesmo tema. “Ntú” foi desenvolvido a partir do desejo de amplificar nosso aprendizado coletivo junto aos artistas, desdobrando uma rede de apoio e distribuição de recursos. As relações de acolhimento, cuidado e partilha são o princípio, o meio e o destino dessa iniciativa.

Ntú é financiado de forma totalmente autônoma, a partir de doações diretas ou contribuições feitas por meio de nossa conta do paypal. Apoie o FunColab e faça parte dessa rede de cuidado!

Em conversa com as três artistas que abrem os caminhos dessa iniciativa confluências evocaram a presença da obra da pesquisadora e ativista Beatriz Nascimento. A expressão “ntú” é mencionada por Beatriz no documentário Ori (de Raquel Gerber, 1989): “Essa textura do Bantu, essa rede de relações que o Bantu estabelece na África entre várias etnias, está fundamentada na própria raiz da língua Bantu que é a raiz do NTÚ; e o sentido de NTÚ é a relação de pessoa para pessoa.”

Ntú é a essência de uma força cuja forma unitária nunca aparece separada de sua dimensão coletiva. Por meio do pensamento de Beatriz Nascimento, recorremos a esta expressão para nomear o gesto de cuidado e aprendizado “de pessoa para pessoa” que dá movimento a essa iniciativa. A própria palavra “bantu” é o plural de ntú – e ao longo das próximas semanas partilharemos mais reflexões acerca desse termo que entrecruza os sentidos de ‘pessoa’, ‘cabeça’, ‘força’ e ‘relação’. Com o uso dessa expressão, criamos também uma oportunidade para refletirmos sobre o papel crucial do povo Bantu na constituição da cultura brasileira.

Ntú se desdobra em três eixos que caminham lado a lado, se cruzam, desdobram e desaguam coletivamente. Honramos aqui a RUA, para pedir licença às encruzilhadas, ao movimento, à linguagem, ao mercado, e estabelecer essa troca de fluxos e processos. Em seguida mergulhamos na TERRA, tornando-nos parte da consciência do que vem dela e tomando parte nas disputas por suas re-distribuições. Por fim, ressaltamos os exercícios de CURA – não como retornos a estados corpóreos anteriores e idealizados, mas como a construção de um novo incorporamento em maior e transitória harmonia com os fluxos vitais.

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