Exposições

Por uma outra ecologia

Partindo do campo da arte contemporânea, Por uma outra ecologia: o que a matéria sabe sobre nós é uma contribuição para as incessantes discussões sobre questões ecológicas. Nosso ponto de partida foram as conversas com artistas e pesquisadores que poderiam ampliar nosso entendimento sobre a temática, expandindo as discussões para além de uma ideia centrada na figura humana. Procuramos nos desfazer dos sentidos convencionais dessa abordagem que envolvem estratégias de sustentabilidade, para buscar pensamentos que vão para além da lógica extrativista inerente à denominação de “recursos”. Convidamos artistas cujas práticas são afetadas por e vinculadas aos saberes de culturas não-hegemônicas de diferentes origens, desde a diáspora africana e caribenha, para compor esta exposição. 

Abrindo-se a porosidade de simbioses e interdependências manifestas nas diversas formas de vida, aqui se adota um olhar atento aos modos vernaculares de conhecer, que nos dão indício de outras maneiras de implicação com nosso entorno.  Nos interessamos por apresentar uma composição orientada pelo processo aberto de aprendizado em torno das possíveis contradições e continuidades entre os conceitos de ecologia e racialidade, expressas em questões intransponíveis ao nosso tempo como as mudanças climáticas e o racismo ambiental. Ao apresentarmos este primeiro estudo, investigamos as fábulas, perversidades e possibilidades que podem apontar para uma outra ideia global de ecologia, seguindo o caminho das palavras do geógrafo Milton Santos, cuja obra informa diretamente o título desta exposição. Ao tomarmos este dado como principal mote, nos deparamos com um sinuoso desafio que não se satisfaz em delinear contornos para o que escapa de qualquer definição. 

E se os elementos tratassem de uma eficácia outra para abordar matéria e forma, que não correspondam a lógica de serventia, mas sim de insurreição? E se pudéssemos dobrar a nossa imaginação para o desejo da própria matéria em ir contra as inflexíveis estruturas lineares que apontam para o seu iminente fim? E se na inteligência da morte e da decomposição estivesse decodificada outra forma de vida? O que a matéria sabe sobre nós é, de fato, algo inapreensível. Convidamos todes a um mergulho profundo, uma inflexão sensorial que se abre a maneiras de percepção despreocupadas em medir ou delimitar grandezas, mas sim em vislumbrar o abissal que habita em nós e em tudo o que vive.

Matheus Morani e Thiago de Paula Souza

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