- Artistas
- Aline Motta
- Amália Coelho de Souza
- Ana Almeida
- Ana Miguel
- Carolina Caycedo
- Caroline Valansi
- Celeida Tostes
- Cristina Salgado
- Eca Eps
- Juliana dos Santos
- Marcela Cantuária
- Maria Laet
- Massô
- Maya Quilolo
- Mayra Martins Redin
- Rebola
- Regina Vater
- Roda de Samba Moça Prosa
- Sabores do Porto (Associação Cultural de moradoras do Morro da Conceição)
- Sheyla Ayó
- Yeni y Nan
Em Tudo que Vive, Tudo que Flui
Vida é fluxo. E neste fluxo a instabilidade é balanço. Assim permanece Oxum. Quando viva, dominava este conhecimento a partir das águas doces. E como ancestral faz parte da episteme Yorubá que segue na manutenção desta intelectualidade. Os orixás são qualidade da natureza, nós somos natureza, e ao chamarmos Oxum, invocamos as energias de nós mesmas. Oxum é palavra de vida.
Parte de seu conhecimento nos deu o desejo e posse desta água e desta hora. Estamos aqui a pensar e realizar esta exposição dedicada a ela e a muito dela que está presente em nosso conhecimento. Não por acaso, mas como parte de uma tradição de aniversário do Solar dos Abacaxis, onde há quatro anos as mostras realizadas em dezembro são à Oxum oferecidas. Assim, reunimos aqui trabalhos de 16 artistas que direcionam suas investigações a elementos fundadores de vida como a água e o objeto de alimento, o ovo. Mulheres que conferem à estes novos contornos e profundidades, nutrindo-se destes símbolos em suas obras.
Aproximam-se aqui artistas que buscam na água sua força de resistência – que evocam a liquidez não só serena, mas também capaz de demarcar a rocha e formar o relevo. A fluidez que estrutura. A água persistente, desviante pois obstinada a manter-se em fluxo. Artistas que trazem à tona a ancestralidade dos corpos d’água, refletindo suas diferentes cosmovisões. Mulheres que frequentam a pluralidade de culturas e conhecimentos profundos sobre a ancestralidade destes rios e canais, para além das limitações coloniais restritas.
Artistas que investigam a maior célula viva sobretudo a partir de sua capacidade de fabulação – como gênese do universo, símbolo da vida e da renovação da natureza. Que aprofundam-se no ovo e em seu mistério – neste ovo que é também germe, origem, princípio. Mulheres que – ainda que não conscientemente – aproximam-se e buscam no ovo o quarto ovo de Olodumaré, aquele que revela seu poder de fertilidade sobrenatural, fonte mantenedora de vida.
Confluem aqui obras que investigam ambos os elementos enquanto mistérios e sínteses de criação, buscando na água e no ovo suas pulsões de vida. Somando correntezas e marés, essa mostra se constrói a partir do fluxo, da luta, da gênese e força feminina; do simples e poderoso exercício de buscar reconhecer em tudo a vida. De procurar aprender, a partir do movimento contínuo e persistente das águas, a matéria prima essencial.
“Kerêô declaro aos de casa que estou chegando
Quem sabe venha buscar-me em festa”
Louvação a Oxum, na voz de Maria Bethânia, 1992
Orixá das águas, dona do ouro, da sabedoria e do amor, ela é toda a amplitude da feminilidade, da sensibilidade, da beleza. Protetora das mulheres, rainha dos rios, é o símbolo da graça, do mistério e da fertilidade. Força das águas, Oxum enfeita seus filhos com ouro e fica muito tempo no fundo do rio gerando riquezas. Dona da água que faz crescer as crianças, conhece o segredo da vida, mas não o revela.
Oxum, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora dos Prazeres, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora da Conceição. Ela é NOSSA Senhora. Pensamento mais puro compartilhado.
Ora Yê Yê Ô!
Ana Clara Simões Lopes e Keyna Eleison