Manjar

Manjar: Ontem Hoje Agora

ONTEM, HOJE, AGORA

Estamos todxs sobre um território em disputa.

Partindo do princípio de um adinkra (vocabulário de símbolos do povo Akan da atual região de Gana) chamado Sankofa, esse Manjar retorna ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.

Ontem, as atividades do Solar começaram em 8 de dezembro de 2015. Desde então foram realizadas 35 exposições contando com a colaboração de mais de 160 artistas, curadores, pesquisadores e educadores de 16 países e 18 estados brasileiros. Essa casa nos cria e também criamos ela. O Manjar é uma exposição construída para causar o nosso bom encontro, o reconhecimento de nossos pares e o relembrar de nossos valores e pautas. Confrontando limites, podemos trançar coletivamente, com disputas e colaborações, novas formas de existência, novas maneiras de estar no mundo.

Hoje, o SOLAR enfrenta um momento crítico e importante: a casa que nos abriga foi colocada à venda. Vimos nos últimos anos o solo se abrir sob nossos pés, vimos o inegociável sendo negociado: vimos alastrar-se a indiferença em relação à defesa dos valores humanistas, da cultura, do clima e da democracia. Não é surpreendente que nesse momento estejamos diante de mais uma luta pela liberdade. Se você está aqui, você faz parte desta luta para criarmos juntxs um lugar de arte, acolhimento e criação, comprometido com uma educação libertadora. Sua amizade, colaboração e engajamento, afetuosamente constituídos nesses últimos 4 anos, são nosso maior bem!

Agora, estamos diante dessa possibilidade de futuro. Contamos com obras de 22 artistas e coletivos para integrar e celebrar esse encontro de arte e liberdade. Para honrar o caminho do Solar, desenhado a tantas mãos trazemos a possibilidade de rever o que já passou. ‘Ontem, Hoje, Agora’ apresenta em pares onze obras já apresentadas no Solar com curadoria do irmão Bernardo Mosqueira e convidadxs ao lado de onze obras inéditas.

Convocamos aqui, a força da contradição, dos opostos que caminham juntos, da dualidade, diversidade e multiplicidade para que possamos extrapolar cronômetros, metas e horários, para experimentar com o que já foi e o que está porvir. A necessidade de luta e implicação política se apresenta nas obras de Opavivará!, Traplev, Lenora de Barros, Moises Patrício, Anna Costa e Silva, Marcela Cantuária e Edgar. Desde o futuro, que nos permite mirar o passado com o interesse de quem escava o tempo.

A partir de um encontro de desejos e ecos o coletivo 01.01 oferece conosco um Caruru para os Ibejis (entidades gêmeas do povo Nagô). Ibeji nos mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados. Por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas. Os frutos que colhemos estão vivos nas obras de Enrica Bernardelli e Erika Verzutti. A criança é o princípio de tudo. Muitas das obras aqui apresentadas foram elaboradas com ou pelas crianças, entre elas Rivane Neuenschwander, Prili, Tiago Sant’ana, Denilson Baniwa e Mariana Guimarães. Caminhamos juntxs para um novo início, uma nova etapa e evocamos essas forças para ensinar, trazer a energia da criação e dos opostos.

Chegou o dia de desabrochar e para isso não existe melhor caminho que o da alegria. Nosso desejo de habitar liberdades se fortalece com as obras de AVAF, Mariana de Matos e Marcos Chaves.

Faço deste texto uma oferenda, um agradecimento e um caminho para tantos ontem, hoje e agora que nos habitam e são possíveis.

** Texto construído a partir de trechos de textos curatoriais de exposições sediadas no Solar dos Abacaxis.

LEIA MAIS