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“O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas!”
‘Mãos Dadas’, Carlos Drummond de Andrade (Sentimento do Mundo, 1940).
Estamos em 27 de Outubro de 2018. Passamos os últimos 20 dias entre os turnos da campanha eleitoral experimentando antigas e novas formas de violência. Nesses tempos de Guerra Híbrida vivemos discussões, desilusões, rompimentos e perdas mas também os efeitos de forças de congregação, união, emanação em função do exercício dos nossos direitos.
Nos anos anteriores, já vínhamos sentindo o solo se abrir sob nossos pés, mas nessas últimas semanas revelou-se o inegociável sendo negociado: vimos alastrar-se a indiferença em relação à defesa dos valores humanistas, dos direitos humanos e da democracia. Para articular com esse momento perigoso de abismos e não reconhecimento entre semelhantes sentimos a necessidade de estarmos implicados na luta para frear o matiz mortífero despontando no horizonte do país.
Foram semanas em que pudemos confirmar a importância de lutar ininterruptamente pelo que sempre defendemos. Em que pudemos ver que há por toda parte pessoas reivindicando a liberdade: corpos e existências resistindo ética e criativamente defendendo o planeta de uma onda tóxica colonial, patriarcal e neonacionalista. Diante do cruel e do absurdo, a imperativa luta diária nos convocou a pôr em prática formas de articulação coletiva que asseguram nosso imaginar e resistir.
Os encontros que acontecem neste MANJAR tem justamente o objetivo de entusiasmar a imaginação política, a liberdade e a coletividade. O Solar dos Abacaxis foi criado como um território de escuta, convivência e resistência, onde podemos comungar de ideias, desejos, imagens e fantasias para dar sentido a nossos movimentos. SOMOS MUITXS considera a situação política global de enorme gravidade que vivemos para convocar a reunião de nossos corpos, o encontro de nossas máquinas sensíveis e imaginantes. Aqui, compartilhamos nossas dores e exaustões, mas celebramos o fato de termos uns aos outros, de sermos muitxs e de podermos extraordinariamente.
Sintonizadxs constantemente com aquilo ainda-não existente, inventaremos nossas vidas como soluções que enriqueçam a experiência coletiva de forma a construirmos um mundo mais saudável, justo e afetuoso. Afinal, nada apavora mais os reprimidos opressores, os vetores perversos das forças retrógradas e conservadoras, do que nossa capacidade de experimentar o mundo de forma poética e o corpo de maneira livre e, claro, nossa própria agressividade de quem não aceita mais a dominação.
Amanhã saberemos o resultado dessas eleições, mas independente já sabemos que algo em nós não descansará. Fomos todxs convocadxs a luta, a compreensão de que nossos direitos são conquistas e esse aprendizado será diário a cada passo, palavra e atuação. Sabemos que qualquer maneira de imaginar é uma forma de fazer política.
Bernardo Mosqueira e Catarina Duncan